Deficiente auditivo conquista título de mestre

28/07/2008

Alisson Fernandes dos Santos defendeu a dissertação na UFPR com ajuda de intérprete.
Com problema congênito que lhe causou surdez profunda, ele aprendeu leitura labial.

Aos 32 anos, formado em farmácia e bioquímica pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Alisson Fernandes dos Santos acabou de receber o título de mestre em ciências farmacêuticas com ênfase em análises clínicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). A história seria mais uma de um profissional dedicado não fosse por um detalhe: Santos é deficiente auditivo e é o primeiro aluno surdo a receber o título na instituição.

 

Santos era aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFPR e através do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (Napne), a universidade ofereceu apoio com a intérprete Noemi Nascimento Ansay, que atuou em dois seminários preparatórios e na própria defesa da dissertação - já que a surdez de Santos é bilateral (dos dois lados) e ele se comunica apenas via leitura labial.

 

Para entrevistar Santos, o G1 conversou por telefone com a mulher dele - Aline dos Santos - que refazia as perguntas para ele. Por meio da técnica de leitura labial, Santos entendia a pergunta e respondia com clareza.

 

Ele contou que nasceu com um problema congênito que lhe causou surdez profunda nos dois ouvidos. Ainda criança, sua mãe o matriculou em uma escola especial para deficientes auditivos para que ele fosse alfabetizado pelo método da oralização e não pela linguagem de sinais. "Minha mãe queria que eu fosse um surdo oralizado pois a linguagem de sinais é muito restrita e ela queria reforçar minha capacidade de comunicação", disse Santos ao G1, por meio de sua esposa.

 

Entre a 1ª e 8ª série, Santos estudou em uma escola particular, em salas de aula comuns para se adaptar o mais rápido possível à comunicação oral. Durante as explicações nas aulas, Santos observava as professoras fazendo leitura labial e algumas anotações. As dúvidas ele esclarecia em casa com a mãe, com amigos da escola ou até mesmo com a professora, depois da aula.

 

Apesar das dificuldades naturais e do preconceito enfrentado - Santos disse que muitos colegas não queriam fazer trabalho em grupo com ele -  ele nunca repetiu de ano. Cursou o ensino médio normalmente e fez um ano de cursinho para prestar vestibular para o curso de farmácia. Sempre trabalhou na área, começou como estagiário e há três anos é funcionário público na área de farmácia e bioquímica.

 

"Eu sempre quis fazer mestrado. Gosto muito de estudar, de ler, eu idealizo o que eu quero. Estou muito feliz em ter defendido a tese", disse Santos ao G1, através de sua esposa Aline.

 

Ele acrescentou que ainda quer fazer doutorado. "Sempre tive dificuldade em todas as etapas, mas sempre as superei com o apoio familiar. As barreiras são muitas e as pessoas não podem desistir, ninguém pode atrapalhar a nossa vontade de crescer", afirmou.


Para defender a tese na UFPR, Santos apresentou o trabalho oralmente e expôs o material em  power point para que os professores da banca pudessem acompanhar e tirar alguma dúvida. Para isso, ele contou com a ajuda de uma intérprete do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais da UFPR.

 

O trabalho de Santos será apresentado ao longo dos próximos meses no 20º Congresso Internacional de Química Clínica e Medicina Laboratorial e no 35º Congresso Brasileiro de Análises Clínicas, em Fortaleza (CE).

 

 
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