Deficientes conquistam mais espaço na universidade
28/01/2009
Número de deficientes matriculados no Ensino Superior aumentaram cerca de 140% entre os anos de 2001 e 2006
Embora tenha nascido com uma deformação na coluna, o estudante Thiago Assis dos Santos, de 23 anos, nunca usou a deficiência como barreira para não ingressar numa universidade e, por isso, pela terceira vez, concorre a uma vaga em pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para ele, o apoio familiar tem sido fundamental. “Eles sempre me ajudaram muito”, afirmou Santos. Ele acredita que neste ano terá o nome publicado na lista de aprovados. “Estou apostando nisso.”
Santos é apenas mais um exemplo do que vem ocorrendo em todo Brasil nos últimos anos: as pessoas com deficiência estão chegando cada vez mais no Ensino Superior. Prova disso são os dados do último censo divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) e elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep): o número de alunos com deficiência matriculados nas universidades de todo o País mais do que dobrou entre 2001 e 2006. As matrículas subiram cerca de 140%, de 5.540 em 2001 para 13.270 em 2006. Em São Paulo, a situação foi também positiva. O Estado registrou um aumento de 20,12%, subindo de 2.122 para 2.549 nestes cinco anos.
O crescimento de matrículas também foi maior nas instituições privadas. Em 2001, as universidades públicas contavam com 472 alunos com necessidades educacionais especiais (NEE) e as privadas, 2.771. Já em 2006, as matrículas chegaram a 6.410 nas entidades particulares contra 2.380 nas públicas.
Apesar de o Inep não ter divulgado o número de alunos com deficiência matriculados por município, as instituições de Campinas comprovam a evolução. A Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) conta até com o Projeto de Acessibilidade (ProAces), que começou tímido em 1997, mas ganhou força com o passar dos anos e oferece atualmente suporte técnico e apoio pedagógico a estudantes com todos os tipos de deficiência ou com necessidades especiais.
“Não temos qualquer estudo que comprove o motivo desse aumento, mas notamos o crescimento na procura e no número de matrículas ano a ano”, afirmou a integradora acadêmica do ProAcess, Mônica Cristina Martinez de Moraes. Em 2002, a PUC-Campinas contava com 14 alunos com deficiência e, no passado, foram 35. “Acredito que esse aumento esteja ligado às iniciativas do MEC para inclusão e até mesmo pelo auxílio da mídia”, disse Mônica.
Entre as atividades desenvolvidas pelo programa estão apoio ao aluno com deficiência visual, transcrição de materiais para o sistema braile, grafia ampliada, intérprete de língua brasileira de sinais (libras), orientação para planejamento e execução de obras, de forma que sejam contempladas a acessibilidade e a locomoção das pessoas com deficiência física ou motora. “Além disso, entrevistamos o aluno para saber quais são suas reais necessidades e também damos assessoria para os professores, para que ministrem as aulas da melhor forma possível para todos”, afirmou Mônica.
Além da PUC-Campinas, a maioria das instituições de Ensino Superior de Campinas também já está preparada ou se adaptando gradativamente para receber cada vez mais estudantes com deficiência. A Faculdade Politécnica de Campinas (Policamp) conta hoje com dois alunos deficientes visuais (um parcial e outro total) matriculados em Direito. Para facilitar o aprendizado, foram instalados softwares específicos para ambos. No caso do aluno com deficiência visual parcial, o programa amplia a imagem e para o outro, lê os textos.
Apesar das adaptações constantes, o diretor da Policamp, Márcio Zuchini, acredita que o desafio ainda é grande para uma pessoa com deficiência ingressar na faculdade. “É muito mais difícil para os alunos deficientes conseguirem estudar porque ainda são poucas as escolas que oferecem suporte, embora haja leis para proporcionar isso. Nós, da Policamp, tentamos fazer o máximo para oferecer todo o suporte para esses alunos com o intuito de ajudá-los durante a sua formação acadêmica, prepará-los para o mercado de trabalho e terem a aquisição da cidadania plena”, explicou Zuchini.
Na Faculdade de Jaguariúna (FAJ), além da presença de dois alunos com deficiência auditiva, a instituição conta ainda com dois funcionários com deficiência física. Toda a escola foi adaptada com rampas e banheiros especiais para receber esses funcionários. Já os universitários contam com o apoio de duas professoras especializadas em libras e a instituição oferece cursos de capacitação.
‘Tenho limitações, mas não deixo de fazer nada’
Desde os 4 anos, Silvio Henrique Girotto, hoje com 29, convive com a visão parcial. Devido a uma alergia a um determinado medicamento na infância, ele passou a conviver com esse obstáculo. Formado em nutrição e atualmente estudante do 5º ano de Direito da Policamp, Girotto aprendeu a lidar com as dificuldades. “Hoje em dia, estou bem mais adaptado. Tenho as minhas limitações, mas não deixo de fazer nada.” As maiores dificuldades foram na época de escola, principalmente pelo fato de ainda não existir computador em sala de aula. “Antigamente, na minha época de escola, não era comum ter computador para os alunos. Depois que comecei a ter mais acesso, as coisas começaram a ficar bem mais fáceis”, disse Girotto. Porém, o universitário já tentou ir atrás de materiais específicos e não conseguiu. “Quando entrei no curso de Direito, liguei nas editoras para saber se elas disponibilizavam os livros em formato de CD para o computador, mas não tinham qualquer livro nesse formato. Ou seja, a minha dificuldade é maior, porque não tenho como aumentar o tamanho da letra, como poderia fazer no computador”, lamentou. Hoje, ele se sente feliz em estar no último ano de Direito e trabalhando na área. “Todo mundo pode conseguir o que quiser. Os obstáculos aparecem na vida de qualquer um, basta saber encarar e lutar pelos objetivos.” (Carolina Cunha/AAN)
SAIBA MAIS
No Brasil, o número de deficientes com idade entre 18 e 24 anos (geralmente, a idade de ingresso na faculdade) ultrapassava 1,6 milhão, segundo o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2000. A população total de deficientes era de mais de 24,6 milhões.
PONTO DE VISTA
André Galvão Amaral
Profissional de engenharia elétrica
Aptidões em diversas áreas
O profissional que opta pela engenharia elétrica desenvolve aptidões que podem ser utilizadas em diversas áreas, como sistemas eletrônicos, eletrotecnica, sistemas de energia elétrica, computação, sistemas de controle e telecomunicações, entre outras áreas. Muitos cursos oferecem um enfoque especial para alguns ramos de atuação, permitindo que o aluno se prepare de forma mais específica. O profissional da engenharia elétrica está constantemente em contato com as mais novas tecnologias em desenvolvimento e disponíveis no mercado. Os engenheiros podem trabalhar em empresas privadas e públicas, sejam elas nacionais, multinacionais, de pequeno ou grande porte. Um outro ramo de atuação é na pesquisa e desenvolvimento de conceitos e tendências de novas tecnologias. Nesse ponto, o Brasil possui algumas tecnologias que são mundialmente reconhecidas como, por exemplo, a tecnologia automotiva de bicombustíveis. A maneira mais fácil de ingressar no mercado de trabalho é através dos estágios nas empresas. Os alunos do último ano, ou os recém-formados também podem optar por prestarem os processos seletivos de trainee. O profissional do ramo está cada vez mais valorizado devido ao crescente desenvolvimento do País.
Carolina Cunha
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