Deficientes por um dia avaliam barreiras
02/07/2008
A princípio pode ter até parecido diversão, mas cerca de 20 acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) nesta sexta-feira (11) sentiram na pele como é difícil para os portadores de necessidades especiais andar nas ruas dos grandes centros urbanos. Com cadeiras de rodas, muletas, andadores, óculos de mergulho, bengalas, entre outros equipamentos, os estudantes se reuniram na Praça Santos Andrade, em Curitiba, para experimentar a mobilidade urbana do local.
Em pouco mais de cinco minutos na direção de uma cadeira de rodas, sobre o petit-pavê da praça, a acadêmica Ana Luísa Herde, de 19 anos, já tinha percebido que de engraçado a atividade não tinha nada. “É muito difícil de empurrar, porque chão é todo desnivelado”, avalia. “Para mim é uma experiência válida, pois vou dar uma atenção especial pra isso em todos os projetos.” Segundos depois, Ana bate em uma das grades de proteção do jardim. “Todas as dificuldades possíveis sentimos aqui”, observa.
Todas as sensações vividas por cada um dos acadêmicos foram observadas pelos participantes de oficinas que estão sendo realizadas em oito capitais do país, pelo Programa Brasil Acessível, do Ministério das Cidades, em parceria com a Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (Abea). A intenção é formar professores multiplicadores do conceito de mobilidade urbana que atuam nos cursos de Arquitetura e Urbanismo “Não queremos criar uma disciplina específica porque entendemos que a acessibilidade deve estar incorporada em nosso dia a dia”, diz o diretor do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUCPR, Carlos Hardt. O coordenador ressalta que no curso de pós-graduação os acadêmicos fazem esse tipo de vivência há 12 anos dentro do campus da universidade. “No começo é uma festa, mas depois todos começam a perceber o quanto é difícil”, conta. “Muitos chegam a chorar no fim da atividade.”
Curiosos que observavam as futuras arquitetas Vanessa Cardoso Molino, de 19 anos, e Maria Clara Cavalini, 19, talvez não entendessem que as duas tentavam experimentar como deve ser andar no Centro da cidade para duas idosas que sofrem de catarata. Para isso, as duas colocaram óculos de mergulhos e utiliziram equipamentos diferentes para a lomocomoção.Vanessa pôs uma caneleira de três quilos nas pernas e Maria Clara de andador. “É muito difícil enxergar o chão”, diz. “Espero que quando eu chegar nessa idade já haja um sistema de acesso para todos.”
Além de andarem pela praça, os acadêmicos entraram em prédios públicos, entraram e saíram de um ônibus e resolveram verificar um banheiro especial, no prédio central da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O coordenador da oficina e presidente da Abea, João Antonio Lanchotti, apontou a falta de espaço no local como uma das principais dificuldades para o cadeirante e tentou mostrar para os participantes como seria utilizar o vaso sanitário. “Viram? Agora imagina como é difícil fazer isso tudo quando se está com dor de barriga”, diz. A dificuldade foi sentida pelo acadêmico Guilherme Luiz Parasiun, 20 anos. “Olhando de fora não parece que é tão difícil”, diz. “Não sei se teria força para conseguir.”
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