Lei de cotas para pessoas com deficiência começa a mostrar resultados
25/06/2008
Cinco anos depois de aprovada a lei que estabelece uma cota de pessoas com deficiência nas empresas, o mercado começa a modificar sua visão sobre o tema. “A lei ainda causa controvérsia, mas o fato é que as empresas já começam a enxergar o profissional além de sua limitação”, afirma Maria de Fátima e Silva, gerente da Divisão de Inclusão Social da Gelre, empresa especializada em recolocação profissional.
Segundo ela, desde que foi aprovada a lei, houve um aumento na quantidade de vagas em aberto por parte das empresas. O fato ainda é resultado da multa estabelecida para as empresas que não cumprirem a lei. “No entanto, a obrigatoriedade acabou fazendo com que as pessoas com deficiência pudessem mostrar suas habilidades, algo que não acontecia”, diz
Maria de Fátima alega que, apesar disso, ainda há dificuldade em encontrar profissionais qualificados. “Isso é resultado de uma exclusão social que faz parte da nossa cultura há muito tempo. O deficiente, muitas vezes, é excluído do aprendizado escolar desde a sua infância”, diz Maria de Fátima. “Além disso, o desemprego que sempre ocorreu no segmento fez com que poucos conseguissem, por exemplo, entrar em uma faculdade”.
Para Guilherme Lyra, presidente da organização sem fins lucrativos Acessibilidade Brasil, que cria ferramentas de acesso à tecnologia para pessoas com deficiência, o problema da falta de qualificação traz prejuízos maiores do que se imagina. “Por ter que preencher a cota, a empresa acaba contratando alguém que não está preparado para o cargo e aumenta o preconceito de que o portador de deficiência é incapaz”, diz.
Para ele, isso resulta na contratação de pessoas com deficiência para cargos inferiores, com salários mais baixos. “Sendo feito dessa forma, a lei de cotas torna-se assistencialista e não agrega em nada”, diz Lyra. Maria de Fátima, porém, afirma que as vagas abertas pelas empresas estão bem distribuídas entre cargos operacionais e cargos que necessitam de mais qualificação, não havendo essa diferença.
Lyra destaca também que muitas vezes, essas vagas são preenchidas por pessoas que possuem alguma limitação física, como cadeirantes, mas raramente são preenchidas por pessoas com deficiência auditiva, visual ou mental. “É preciso haver uma maior atenção com esse público, pois a dificuldade com a linguagem acaba afastando-os do mercado, criando mais uma exclusão”, diz.
Na visão de Lyra, o ideal seria que todas as vagas, em qualquer empresa, pudessem ser disputadas por pessoas com deficiência, sem que houvesse qualquer distinção. “É preciso criar essa cultura, para que as pessoas com deficiência sintam a necessidade de buscar qualificação e tenham condições de disputar um lugar como qualquer pessoa”, diz. “Para isso, é preciso investir na inclusão social como um todo, nas escolas, nas empresas, na sociedade”, conclui.
(Cassia Gisele Ribeiro – 29/01/03)
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